O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi interrogado nesta terça-feira (10), pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Durante o depoimento, Bolsonaro voltou a questionar a segurança das urnas eletrônicas e afirmou que suas críticas ao sistema eleitoral não eram exclusivas, mas compartilhadas por outras autoridades públicas.

No interrogatório, conduzido diretamente por Moraes — relator da ação e responsável por decisões de grande impacto político no caso —, Bolsonaro negou ter participado de qualquer articulação golpista e refutou as acusações apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que o aponta como um dos principais líderes da suposta trama. “Não procede a acusação, Excelência”, afirmou o ex-presidente.

Questionado sobre suas declarações que colocaram em xeque a integridade das urnas eletrônicas, Bolsonaro sustentou que suas críticas refletiam desconfianças legítimas, citando exemplos de outras autoridades que também questionaram o sistema. “A questão da desconfiança, suspeição ou crítica às urnas não é algo privativo meu”, declarou.

Para reforçar seu argumento, o ex-presidente leu trechos de discursos atribuídos a figuras públicas, como o atual ministro do STF Flávio Dino — que, segundo Bolsonaro, em 2010 ou 2012 teria dito, após uma derrota eleitoral, que o sistema eletrônico de votação precisava ser aprimorado. “Hoje eu tive a oportunidade de ser vítima de um processo que precisa ser aprimorado, ser auditado, que é o sistema das urnas eletrônicas”, citou Bolsonaro.

Ele também mencionou o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, que em um vídeo publicado no Facebook teria afirmado: “Sem a impressão do voto, não há possibilidade de recontagem. Sem recontagem, há fraude interna.”

No decorrer do interrogatório, Moraes manteve um tom firme, buscando esclarecer os vínculos do ex-presidente com a propagação de desinformação sobre o processo eleitoral e eventuais conexões com as manifestações golpistas que culminaram nos atos de 8 de janeiro de 2023. Bolsonaro insistiu que sua intenção era propor medidas que garantissem mais segurança às eleições. “A intenção sempre foi estabelecer mais uma camada de proteção para evitar qualquer suspeição, qualquer conflito, contra as eleições”, declarou.

O depoimento de Bolsonaro faz parte da etapa de oitivas dos réus considerados parte do “núcleo crucial” da suposta organização criminosa investigada. O processo ainda pode avançar para fases de alegações finais e eventual julgamento.