A dor da perda ainda pulsa no coração da família de Gabriel Lincoln Pereira da Silva, mas, em meio ao luto, surge também um gesto de amor, fé e resistência. Nesta terça-feira (20), será reaberta a LINCOLN MASSAS Hamburgueria & Petiscaria, lanchonete fundada por Gabriel antes de ser morto durante uma perseguição da Polícia Militar, no dia 3 de maio, em Palmeira dos Índios. Mais do que um ponto comercial, o espaço agora se transforma em um memorial vivo do adolescente de 16 anos, cuja trajetória foi interrompida de forma brutal.

Gabriel havia realizado o sonho de abrir o próprio negócio com o apoio dos pais. Jovem empreendedor, queria oferecer pizzas, hambúrgueres e petiscos de qualidade. A lanchonete, que levava seu nome, foi inaugurada em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade, no bairro Vila Maria e rapidamente se tornou um ponto de encontro da comunidade. Era o reflexo de seu esforço, visão de futuro e vontade de crescer. No entanto, a realização foi tragicamente interrompida.

De acordo com a versão apresentada inicialmente por policiais militares envolvidos na ocorrência, Gabriel teria empinado uma motocicleta, desobedecido a ordem de parada e sacado uma arma durante a perseguição. A família contesta essa narrativa e diz que o menor não estava armado. Para os parentes e amigos, trata-se de mais um caso de abordagem policial violenta e desproporcional contra um jovem da periferia.

As investigações seguem em curso. O inquérito está sob responsabilidade da Polícia Civil, com acompanhamento do Ministério Público. Os PMs envolvidos foram afastados das ruas. A família de Gabriel, acompanhada por um advogado, cobra transparência e celeridade no processo.

Enquanto isso, os familiares decidiram manter acesa a memória do jovem com um gesto simbólico e poderoso: a reabertura da LINCOLN MASSAS. “Reabriremos a Hamburgueria & Petiscaria para honra e glória do Senhor e em memória a Gabriel”, afirmou, emocionada, Iara Ramos, amiga próxima da família.

Cada detalhe do espaço carrega a presença de Gabriel. Fotos, mensagens, objetos pessoais e um mural de homenagens tornam o local um santuário de lembranças. No balcão, nas paredes, nos quadros, tudo remete ao jovem sonhador que conquistou o coração da comunidade. “Ele sonhou esse lugar. Agora, é nossa missão manter esse sonho vivo”, disse Iara Ramos, com a voz embargada.

Desde o dia da tragédia, Palmeira dos Índios vive um clima de comoção e mobilização. Diversas manifestações foram realizadas nas redes sociais uma passeata ganhou as ruas da cidade em protesto contra a morte de Gabriel. Na passeata, nas ruas, cartazes com frases como “Justiça por Gabriel Lincoln” e camisetas brancas estampadas com o rosto do adolescente viraram símbolo da luta por justiça. Um novo ato está marcado para a próxima sexta-feira (23), às 8h, em frente ao Centro Integrado de Segurança Pública (CISP) do município. A comunidade promete seguir firme até que as circunstâncias da morte sejam totalmente esclarecidas.

Para os moradores da região, a reabertura da lanchonete representa mais do que um gesto de homenagem: é um ato de coragem. É também uma denúncia contra a violência e o silenciamento de jovens negros e periféricos. Amigos, vizinhos e clientes garantem que manterão o espaço vivo — não apenas pela qualidade da comida, mas pelo que ela representa: a permanência da memória, o grito por justiça e a celebração da vida de Gabriel.

A LINCOLN MASSAS, em frente à UPA de Palmeira dos Índios, agora serve muito mais do que hambúrgueres e petiscos. Serve saudade, esperança e resistência. E, em cada garfada, em cada sorriso, permanece a lembrança de um menino de apenas 16 anos, que sonhava alto e teve a vida interrompida cedo demais.